sexta-feira, 16 de julho de 2010

Que a vida por mim passe



Prefiro rosas, meu amor, à pátria,
E antes magnólias amo
Que a glória e a virtude.
Logo que a vida me não canse, deixo
Que a vida por mim passe

Logo que eu fique o mesmo.
Que importa àquele a quem já nada importa

Que um perca e outro vença,
Se a aurora raia sempre,
Se cada ano com a Primavera
As folhas aparecem
E com o Outono cessam?

E o resto, as outras coisas que os humanos
Acrescentam à vida,

Que me aumentam na alma?
Nada, salvo o desejo de indiferença
E a confiança mole Na hora fugitiva.

Fernando Pessoa.

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